DIÁRIO
DO IMIGRANTE MATHIAS SCHMITZ |
"Após
o sofrimento vem a alegria!" |
Este
ditado já tornou-se verdade para muitos. Também
em minha vida revezam-se sofrimentos e alegrias.
Talvez
seja interessante para mim ou outro, dar um olhar sobre o decorrer
de minha vida. É por esta razão que resolvi escrever
o que aconteceu comigo. Antes de começar, quero porém
pedir que perdoem o meu escrever; desculpar meus erros gramaticais
e sim concentrar-se mais no sentido da minha narrativa do que
na ortografia.
Já
como escolar e mais ainda como adolescente, eu tinha uma aversão
enorme pela emigração e principalmente para o
Brasil. Somente ao ouvir o nome já sentia arrepios, porque
imaginava a terra bem diferente do que mais tarde conheci.
Eu
imaginava uma terra totalmente selvagem, onde seus moradores
eram seres humanos só na denominação e
que mais se pareciam com animais. Uma terra na qual, atrás
de cada arbusto corria-se o risco de ser mordido por uma cobra
ou outro animal selvagem.
Uma
terra onde não se podia dar um passo em segurança,
sem o perigo de ser preso, morto e assado pelos selvagens, que
acompanhavam os moradores.
Mas
mesmo com todos estes perigos em mente: seja como Deus quiser!
Aqui na Alemanha não há futuro para mim. Eu resolvi
acompanhar, aos 20 anos, meus pais e mais outros emigrantes
para o Brasil.
Onze
famílias, entre as quais estavam filhos e filhas já
adultos. Partiram certo dia, cantando alegremente, do pequeno
lugarejo de Loeffeischeidt no Hunsrück, para um novo lar.
Muitos dos emigrantes derramaram lágrimas amargas ao
se despedir de parentes e amigos, pois era um adeus para sempre.
Depois que paramos por alguns minutos numa elevação,
até onde quase todos os moradores do lugar nos acompanhavam,
eu também com olhos marejados de lágrimas, olhei
pela última vez o lugar onde nasci. Por pouco não
desistia da viagem, se meus amigos que também partiram
não me tivessem encorajado, afirmando sempre que só
no Brasil encontraria a felicidade. Logo me senti mais confiante
e assobiando alegremente, subi nas caixas e cofres que estavam
amontoados numa carroça e lá seguimos pela estrada
até o Reno. Numa pequena cidade de nome B., localizada
lá mesmo, pernoitamos. O cuidado com a bagagem ficou
a cargo dos mais velhos e nós moços, fomos à
próxima taberna, onde, com uma boa garrafa de vinho e
alegres brincadeiras, permanecemos até o dia raiar. Logo
de manhã, caixas e malas foram levadas até o vapor
que nos levou até Koeln. Ficamos um dia nesta bela cidade;
admirava surpreso as bonitas vitrines. Visitei a igreja, onde
numa prece pedi proteção a Deus para a viagem
que teríamos que enfrentar. No outro dia, era 10 de outubro,
seguimos de trem para Ostende, uma cidade na Bélgica
e de lá partiríamos até a cidade de Dunquerque,
na França, onde nos esperaria um veleiro que nos levaria
ao Brasil.
Antes
que eu continue na descrição de minha viagem,
preciso mais uma vez retornar ao meu lugar de nascimento, para
esclarecer melhor os leitores sobre a minha partida, e aos desagradáveis
acontecimentos que se seguiram.
No
ano anterior, 1845, antes de emigrarmos, foi fundada no Brasil
uma nova cidade de nome Petrópolis (residência
de verão do imperador) e que diziam fora colonizada quase
exclusivamente por alemães. Por este motivo o governo
brasileiro fez um contrato com um certo armador de nome D.,
da cidade portuária de Dunquerque, na França,
e que por conta do governo brasileiro levaria certo número
de emigrantes até a cidade do Rio de Janeiro, para colonizar
Petrópolis. Para reunir estes emigrantes, o citado senhor
D. contratou vários agentes que angariavam pessoas interessadas
em vir ao Brasil. Verdade é que o número de emigrantes
aquele ano foi tão grande que ultrapassou o número
estipulado. Apesar do governo brasileiro correr com todas as
despesas dos emigrantes, estes ainda eram enganados e explorados
pelos agentes. Tinham muitas vezes que entregar até a
última moeda que possuíam. No ano seguinte, ano
em que eu emigrei, os agentes espalharam que mais um determinado
número de emigrantes podia partir para o Brasil, e somente
as despesas até a cidade portuária seria por conta
de cada um. Além de tudo, o Brasil era lembrado como
paraíso na terra. As pessoas recebiam boa terra e uma
bonita casa, tudo livre de qualquer despesa. Não era
de admirar portanto que tantas pessoas se punham a caminho do
Brasil. Na maioria eram pessoas que na Pátria nada mais
tinham a perder e que mal conseguiam reunir o dinheiro para
chegar à cidade portuária de França. Mas
muitos pensavam: "você conseguirá levar os
teus, mesmo que tenhas que passar fome e sede, serás
recompensado pelo governo; ele prometeu e deverá cumprir
a promessa". Mas tudo foi bem diferente. Logo que os emigrantes
chegaram a Dunquerque, o armador exigiu o preço da passagem
na íntegra, dos que queriam ir ao Brasil. Mesmo o argumento
de que o governo se incumbiria do pagamento ele não aceitou.
Sua resposta foi de que ele nada tinha com o governo brasileiro,
e que cada um devia cuidar de si mesmo. Agora então tivemos
o conhecimento de que fomos enganados e alguns que ainda possuíam
um pouco de dinheiro pagaram o exigido. Alguns veleiros foram
aprontados para receber os emigrantes. A maioria no entanto
tinha que aceitar o destino. Não podiam seguir para o
Brasil e o que era pior, também não podiam voltar.
Quem encontrava trabalho na cidade ficava e muitos foram mendigar.
Diariamente o número de enganados aumentava de tal maneira
que a cidade sofreu uma enchente de alemães, que por
força maior tiveram que pedir seu pão na porta
de moradores. A miséria tornou-se por fim tão
grande que o governo francês expediu vários navios
com estes alemães logrados para a África, só
para livrar a cidade do excesso de pessoas. Por fim nenhum emigrante
podia mais passar a fronteira da França sem apresentar
antes um certificado de armador D., no qual constava que o frete
da bagagem estava pago e D. se comprometia oferecer hospedagem
e comida ao referido emigrante, e quando se apresentasse oportunidade,
enviaria o mesmo ao Brasil.
Justamente
nesta época, cerca de 40-50 famílias, entre as
quais eu também me encontrava, estávamos prontos
a viajar de Oeste para a cidade portuária Dunquerque.
Aconteceu um grande contratempo. Recebemos a notícia
de que não nos era permitido atravessar a fronteira sem
apresentarmos o exigido certificado. Se não tivéssemos
dinheiro suficiente para cobrir as despesas seria melhor voltar
para casa. O último nada nos agradou. Já não
tínhamos mais casa nem propriedade. Por felicidade estava
conosco o agente do armador D., por ordem do qual nós
empreendemos a viagem. Este se vira obrigado a nos acompanhar,
porque eu estava de posse de algumas cartas do agente e se as
mesmas caíssem em mãos da polícia, ele
seria preso e invariavelmente condenado por fraude. Somente
o medo levou-o a interceder junto ao armador D. para que fôssemos
transportados, não de todo gratuitos, mas por um preço
baixo. Este agente, como ele mesmo contara, também tinha
sido enganado pelo armador, pois o mesmo lhe afirmara que as
condições da viagem eram as mesmas do ano anterior,
isto é, por conta do governo brasileiro. (citado agente,
mais tarde teve que abandonar a Europa clandestinamente, porque
era perseguido pela polícia). Veio ao Brasil, onde eu
pessoalmente falei com ele, pois ficou vários dias na
colônia alemã. Logo desapareceu e foi encontrado
mais tarde esfarrapado, morto de fome e sede, numa mata próxima.
Teve um fim horrível.
Nós
permanecemos alguns dias em Ostende e neste meio tempo, o agente
foi procurara o armador para tratar de nossa viagem. Certo dia
veio o armador pessoalmente e começou o debate e os acordos.
Primeiro o mesmo não estava interessado em negociar,
mas, por fim concordou em aceitar 40 Taler para pessoas acima
de doze anos e 20 Taler para pessoas abaixo de 12 anos. Muitos
não tinham nem esta soma e novos debates se iniciaram.
Por último o armador deu-se por satisfeito com 2/3 do
preço. Começou então nova negociata entre
os passageiros emigrantes, quem tinha dinheiro emprestava ao
que nada tinha, para pagar quando chegasse ao Brasil. Eu mesmo
pedi emprestado 50 Taler para cobrir as despesas de meus pais
e irmãos. Sobraram assim mesmo 11 famílias; 3
da minha região, que não conseguiram dinheiro
suficiente para a passagem. Estas famílias mais tarde
foram acompanhadas pela polícia até a fronteira
e enviados de volta à cidade de onde vieram. Que estes
tiveram um destino lamentável é compreensível,
pois tinham vendido tudo o que possuíam.
Agora
que a negociata com D. terminara, foram providenciadas carroças
que transportavam caixas, caixotes, malas e pessoas até
a cidade portuária.
Chegamos
diante das portas da cidade onde a polícia não
permitiu nossa entrada até a chegada do armador, para
que esse assumisse a responsabilidade de todos nós, no
que se referisse a alimentação. No porto estava
ancorado um navio com destino ao Brasil e já algumas
famílias encontravam-se nele. A este foi logo transportada
nossa bagagem e nós também embarcamos, podendo
pernoitar no navio.
No
dia seguinte (era, se não me engano, 19 de outubro),
o veleiro levantou âncora e partimos. Éramos 220
pessoas a bordo; todos emigrantes e fomos logo atacados pelo
enjôo. Todos procuravam um canto para deitar-se. Não
sentíamos nem fome nem sede. Logo que esta fase terminou
e nós melhoramos, um mal bem pior nos surpreendeu. Era
disenteria que uma família trouxera a bordo. Esta terrível
doença atacou a quase todos, inclusive a tripulação!
Que miséria reinava entre os doentes! Aqui alguém
gritava por água, acolá outro pedia para morrer.
Desta doença morreram durante nossa viagem (6 semanas),
27 pessoas, na maioria adultos, cujos corpos eram atirados ao
mar. Numa noite, eu me lembro, 3 corpos de uma só vez
foram atirados ao mar. De várias famílias morreram
o pai e a mãe deixando de 4 a 5 crianças pequenas
mas que logo foram acolhidas por outras famílias caridosas.
Comida tinha o suficiente, mas o capitão não entregava.
Mesmo para um doente não se obtinha nem um pouco de água
para fazer uma sopa, imaginem outro alimento. Quando tentávamos
explicar a necessidade de um doente e que o mesmo implorava
por comida, ele apenas respondia: Nada! Morre! Bom para os peixes!
E viravam as costas. Uma única vez, depois de implorar
muito, ele me vendeu uma garrafa de vinho por 5 francos para
meus pais. Mas em compensação, numa outra ocasião
quando pedi água, para um doente, a xícara me
foi derrubada com um tapa na mão e jogada no mar. A comida
que recebíamos era demais para morrer e muito pouco para
viver. Consistia em "água com café",
batatas semi-apodrecidas, um pouco de carne salgada e pão
velho. Se nós pelo menos tivéssemos recebido somente
pão e água, já teríamos ficado satisfeitos.
Mas era água duvidosa que diziam ser café, às
10 horas da manhã, e às 4 horas um pratinho de
água morna com pedaços minúsculos de carne
salgada ou cabeças de peixes salgadas. Esta foi a alimentação
dia após dia, durante todas as semanas de viagem. Como
ficávamos contentes quando chovia e podíamos recolher
a água e guardávamos até a última
gota. Se nós tivéssemos levado tanto tempo para
a viagem como outros navios que chegaram ao Brasil, isto é,
5 a 8 meses, nenhum de nós teria sobrevivido. Os que
não morreram de disenteria teriam morrido de fome e de
sede.
Quando
a viagem já estava chegando ao fim e a miséria
da comida aumentava, todos os pais de famílias e jovens,
postaram-se armados diante da cabine do capitão e exigiram
comida e água ou se vingariam. Isto resultou em efeitos
positivos. O comandante mandou buscar pão e distribuiu
boa quantia a todos. Também um barril com água
potável apareceu e todos puderam saciar sua sede. Igualmente
a cozinha apresentou uma comida melhor, mas isto foi só
um dia; depois tudo continuou como antes.
No
que se refere ao tempo, a nossa viagem foi boa. Somente uma
vez tivemos que enfrentar um temporal e todos tiveram que recolher-se
nos camarotes. Neste temporal um mastro foi derrubado, mas não
sofremos outros danos.
Certo
dia, após 6 semanas em alto mar, quase mortos de fome,
avistamos terra: era o Brasil. A alegria que todos sentíamos
era imensa, pois agora estávamos livres da prisão
e só um grito percorria o navio: Terra! Todos que podiam,
arrastavam-se até o convés do navio, para certificar-se
de que era verdade mesmo. A terra crescia à nossa frente
e ancoramos perto da cidade. Agora estávamos num continente
estranho, cheios de esperança e angústia, separados
para sempre da pátria. Aqui pretendíamos encontrar
a felicidade. Todos que podiam permanecer no convés admirando
a grande cidade do Rio de Janeiro.
Não
muito tempo o navio estava ancorado, quando recebemos, vindo
em uma canoa, um alemão, que serviria de intérprete
e um médico. Por estes senhores fomos interrogados sobre
nossa viagem e nosso tratamento a bordo. Foi então que
podemos contar tudo o que nos acontecera. Logo o médico
foi visitar os doentes, dos quais ainda tinham muitos. Receitou
remédios que mandou buscar na cidade. O capitão
recebeu a ordem de cuidar com uma melhor alimentação,
principalmente para os doentes. Esta ordem foi cumprida. A partir
de então os doentes receberam, em vez de água
morna, até uma canja com carne de galinha. Os outros
também receberam comida melhor; repentinamente havia
tudo o suficiente. Os tempos mudaram para nós. O comandante
andava mal humorado pelo navio e se pudesse teria atirado a
comida ao mar. O médico vinha diariamente visitar os
doentes e verificar a alimentação. Até
na cozinha entrava para ver o que estava sendo preparado para
nós. Vinham também várias canoas até
o navio levar frutas, principalmente bananas e laranjas, que
para nós era a comida preferida.
Foi
aqui que eu vi pela primeira vez em minha vida negros. Em cada
canoa vinham 2 ou 4 remadores. Eram bem pretos, dentes alvos,
cabelos crespos, estrutura robusta, sem camisas ou camisetas,
só vestidos com uma velha calça até os
joelhos. O calor era muito grande e o suor corria-lhes pelo
corpo fazendo-os brilhar como ébano. Ao vê-los
pela primeira vez, senti um calafrio percorrer meu corpo. Perguntava
a mim mesmo como era possível escravizar estas pessoas,
pois eram seres humanos como nós.
Dez
dias tivemos que permanecer a bordo, antes que pudéssemos
ir a terra. Diziam que era por causa da doença, pois
os brasileiros tinham medo que a mesma se espalhasse pela cidade
também. Mas eu acreditava que o motivo era bem outro
e pela seguinte razão: desde que tínhamos chegado,
vinha um senhor, que parecia ser um funcionário no Rio.
Este homem vinha em companhia de outros e um intérprete
alemão. Trazia uma grande folha de papel que estava escrito
em português e alemão. O que queriam? Este senhor
tinha grandes áreas de terra numa região onde
fazia bem mais calor, mas do nome não me lembro. Estas
terras ele queria colonizar com alemães. Eis o motivo
porque trazia aquela folha de papel e que os alemães
teriam que assinar. De acordo com o escrito, cada alemão
receberia margem de terra para um certo preço. Os primeiros
três anos nada precisávamos pagar; só a
partir dos três anos, tendo 6 anos para o pagamento. Quem
não tivesse feito até então o pagamento
teria que pagar juros. O proprietário também prometeu
uma longa ajuda em alimentos e ferramentas, que poderíamos
pagar mais tarde. Teríamos que assinar o contrato e o
mesmo navio nos levaria ao destino. Foi justamente a mim que
escolheram para ler o papel; provavelmente acreditando que eu
era o mais entendido em escrita. Depois de ter analisado tudo
muito bem eu disse: "todos podem fazer o que acharem melhor,
mas eu, meus pais, meus irmãos, queremos primeiro desembarcar,
estar em terra firme. Ali quero informar-me e se achar conveniente,
então assinarei. Numa terra estranha não se pode
assinar qualquer compromisso à primeira vista".
Depois que eu falei isto os senhores voltaram a terra. Mas no
dia seguinte voltaram e assim faziam diariamente. Por fim viram
que tudo dependia de mim e prometeram-me uma gratificação,
mesmo terra sem pagamento, se eu convencesse os outros a assinar
o contrato. Mas eu estava firme em meu propósito de primeiro
desembarcar. Mais tarde soube por um alemão fugitivo
daquela região, que devido ao péssimo clima quase
todos morriam.
Quando
o comandante viu que não chegávamos a nenhum acordo,
ele nos liberou depois de 10 dias da nossa chegada. Na cidadezinha,
Praia Grande, que ficava defronte ao Rio, fomos liberados. No
mesmo dia o capitão mandou chamar todos ao convés
e exigiu de nós o restante do frete, pois D. só
tinha pagado 2/2 do mesmo. O comandante alegou que o armador
lhe mandara cobrar o restante na chegada e se não fosse
efetuado o pagamento ele podia embargar toda a bagagem. Agora
o desespero era grande, ninguém tinha mais dinheiro.
Os homens pediram, as mulheres imploraram, mas nada adiantou;
sem nossos haveres fomos desembarcados. O que fazer agora? Para
onde ir? Lá estávamos deitados todos na praia,
até que alguns brasileiros acercaram-se de nós,
indicando por gestos um rancho abandonado que poderíamos
ocupar. Lá tínhamos que passar a noite sem comida,
sem bagagem, sem cama, o que seria de nosso futuro? As mulheres
começaram a lamentar a sorte, as crianças choravam,
outros rezavam, outros discutiam. Algumas mães vendo
o desespero dos filhos, foram a uma padaria e por sinais indicavam
que queriam pão para seus filhos famintos, no que também
foram atendidas.
Também
eu fiquei a noite toda analisando a situação.
Num país estranho, onde não se conhecia ninguém,
os 5 francos que me restaram tinham ficado a bordo numa caixa.
O que fazer? Mas eu tinha que encontrar uma solução!
Resolvi então seguir numa das canoas na manhã
seguinte até o Rio e procurar o cônsul da Prússia.
O dinheiro para a canoa pediria emprestado de uma pessoa que
ainda tivesse algum. Quando amanheceu fui até a cidadezinha
à procura de uma canoa que me levasse ao Rio. No caminho
encontrei um senhor, que pela aparência parecia alemão
e o interpelei. Realmente era alemão e vivia na cidade.
A sua pergunta, confirmei que pertencia ao grupo de imigrantes
recém-vindos e contei-lhe nosso drama. O mesmo achou
por certo procurar o cônsul e se dispôs a acompanhar-me.
Antes convidou-me à sua casa para um café, o que
não aceitei, explicando-lhe que precisava primeiro solucionar
o problema de meus companheiros; mas eu o esperaria mais tarde
no galpão. Contente regressei e contei aos meus amigos
que tinha encontrado uma pessoa que nos ajudaria. Nem meia hora
depois o meu conhecido chegou. Pegamos uma barcaça a
vapor e fomos até o Rio. Lá procuramos primeiro
o cônsul da Prússia, mas fomos muito mal recebidos
por ele. Disse-nos ele que tinha outras coisas a fazer do que
cuidar de imigrantes, que deveriam ter ficado de onde vieram.
Quando estávamos novamente na rua, meu companheiro sugeriu
procurar outro cônsul, fosse ele de Hamburgo ou Bremen
ou outro europeu. Fomos bem recebidos pelo cônsul de Hamburgo.
Tive que contar toda nossa viagem, o mau trato que recebemos,
etc. Então soube que o armador D. Estava desacreditado
pelo governo brasileiro, porque no ano anterior tinha acontecido
muitas irregularidades. O cônsul pediu que nós
o acompanhássemos e o mesmo nos levou para um salão
onde estavam reunidos alguns senhores, que logo mostraram-se
interessados em minha história. Pediram o nome do comandante
e do veleiro, prometendo tomar providências e que nossa
bagagem ainda seria liberada naquele dia. Contentes nos despedimos,
agradecendo todas as gentilezas. Era hora do almoço e
eu sentia uma fome terrível, pois não comera durante
todo o dia. Meu novo amigo sofria do mesmo mal e convidou-me
para comer, o que também fizemos e ele pagou a despesa.
Ao
sair do restaurante, tivemos que esperar um bom tempo até
a chegada da barcaça. Meu amigo mostrou-me um pouco a
cidade. Vi bonitas vitrines; no mercado enorme quantidade de
laranjas, das quais chupamos algumas. Meu companheiro não
cabia em si de contente porque pudera ajudar-nos.
O
comandante, por ordem do Rio, entregou aos imigrantes seus objetos.
Mas infelizmente muito ainda faltava; algumas espingardas, tachos,
panelas de cobre, caixas foram arrombadas e o conteúdo
roubado. Minha própria mala, duplamente fechada fora
arrombada. No dia seguinte eu pretendia procurar o cônsul
outra vez para explicar o que acontecera.
Um
dos males estava solucionado, mas logo apresentou-se outro.
Panela tínhamos, mas nada para por dentro e com o qual
pudéssemos acalmar nossa fome. Ainda vivíamos
na espera de que o governo cuidaria de nós, mas estávamos
enganados. Nada aconteceu. Restava apenas uma solução:
mendigar, apelar para o bom sentimento dos moradores e assim
fizemos. As mulheres se puseram a caminho e também foram
bem recebidas; trouxeram provisões e até dinheiro.
Eu
mesmo estava sentado num monte de lenha em frente ao rancho,
pensando numa solução.
Estava
resolvido a escrever uma carta ao imperador pedindo auxílio
e eu pessoalmente entregar-lhe esta carta.
Redigi
a carta, contando o que nos havia acontecido na viagem e de
nossa atual situação. Depois eu queria mandar
traduzir o escrito e possivelmente encontraria outra pessoa
caridosa que nos ajudasse. Expliquei o plano aos meus companheiros
de infortúnio e pedi que, que,m pudesse ajudasse com
um pouco de dinheiro. Todos concordaram entusiasmados e conseguiram
a soma de 8 mil réis. Levei mais um jovem de nosso grupo,
bastante vivo para acompanhar-me. Precisávamos de auxílio
para não morrer de fome. No dia seguinte partimos para
o Rio, pedimos informações a um dono de restaurante
alemão, sobre uma pessoa que pudesse traduzir nossa missiva
e ele nos forneceu e endereçou o nome de uma pessoa capacitada
em faz-l.o. Fomos procurá-lo e ele fez o que pedíramos.
Pagamos 4 mil réis pela tradução e lá
partimos em direção ao palácio imperial.
Quando chegamos, soubemos que o imperador não encontrava-se
no palácio, mas sim em sua residência em São
Cristóvão, 2 horas distante do Rio. Para não
perder muito tempo e chegar logo, tomamos um fiacre por 400Rs.
E em uma hora chegamos ao nosso destino.
Na
residência imperial, entramos primeiro num grande e lindo
jardim e a primeira pessoa que encontramos foi o jardineiro,
que era alemão de nascimento. Cumprimentamo-nos alegremente,
contamos nossas desditas e explicamos o que queríamos.
Pedimos ao jardineiro que nos acompanhasse para servir de intérprete.
Não demorou muito e este regressou com a notícia
que o imperador não receberia.
Quando
fomos anunciados ao imperador, ficamos nervosos e nosso coração
batia com força. O jardineiro, vendo nosso receio, encorajou-nos
e disse que o imperador era um homem bom e compreensivo.
Mais
confiantes subimos a escadaria e nos dirigimos ao salão
onde estava o imperador. Logo que nos viu, veio ao nosso encontro
sorrindo amável e nós nos sentimos mais à
vontade. Entregamos a nossa carta que leu com atenção.
Fez várias perguntas e nossas respostas foram interpeladas.
O imperador prometeu ajudar-nos a tomar todas as providências
necessárias para resolver nossos problemas. Satisfeitos
e alegres nos despedimos cerimoniosamente e saímos. Conversamos
mais um pouco com o jardineiro que nos convidara à sua
casa. O caminho de regresso tivemos que fazer a pé pois
como era tarde, já não havia mais nenhum fiacre.
Agora
manifestava-se a fome. Compramos um pedaço de pão,
um pedaço de carne e tomamos um copo de aguardente. Quando
chegamos ao poeto verificamos que não havia mais barcaça
que nos transportasse ao outro lado. Soubemos que após
as 18 horas, o preço pelo transporte estava liberado.
Podiam cobrar o preço mais elevado. Como tínhamos
apenas 1 mil réis, estávamos em apuros, mas nada
adiantou conversar com os negros. Eles por sinais, nos faziam
entender que queriam 4 mil réis pela travessia, o que
realmente não tínhamos. Perto um senhor escutou
a nossa conversa sinalizada e condoendo-se, pagou 4 mil réis
e mandou que o negro nos levasse até o outro lado. Mais
uma vez sentimos a gentileza dos moradores. Ao chegarmos, tivemos
que contar todos os detalhes o nosso encontro com o imperador.
A alegria foi total, mas cedo demais; novamente nós nos
sentimos enganados. Dia após dia passava e nada acontecia.
A necessidade de alimentos tornou-se tão grande, que
fomos obrigados outra vez a esmolar. Havia muitos moradores
que ajudavam de bom coração; outros batiam a porta
quando nos viam e analisando as constantes visitas que nos fazia
aquele homem, querendo que assinássemos o compromisso
para ir às suas terras, me fez pensar que talvez eles
estivessem impedindo a ajuda prometida. Mais uma vez resolvi
procurar o imperador. Novamente fiz uma carta e mandei traduzi-la
e junto com o tradutor fui procurar o imperador, que desta vez
encontrava-se no palácio. Pedimos que os guardas anunciassem
e recebemos permissão para entrar. Já não
sentia mais receios e confiante subia as escadas. O imperador
nos recebeu num grande salão, mas não estava sozinho.
Vários senhores estavam presentes. Entreguei outra vez
a minha cartinha, quando o mesmo veio ao nosso encontro, e uma
irritação profunda espelhou-se em seu rosto,quando
a leu. Chamou um dos presentes e comentaram sobre o que eu havia
escrito. Em seguida se dirigiu a nós e gentilmente falou-me,
pediu desculpas de que tínhamos esperado tanto tempo
em vão, mas agora tudo seria resolvido; que eu fosse
tranqüilo para junto dos meus. Um pedido no entanto não
podia conceder; ao Rio Grande do Sul não nos poderia
enviar. No entanto havia três províncias que poderíamos
escolher, Santa Catarina, São Paulo e Espírito
Santo. Podíamos pensar a respeito e mais tarde quando
interrogados, dizer por qual nos decidiríamos. Contentes
deixamos a sala de audiência e voltamos para casa, transmitindo
a mensagem do imperador. A alegria não foi tão
estrondosa como a primeira, mas grande foi a satisfação
que sentimos quando à tarde veio uma canoa carregada
com alimento; carne, pão, café, açúcar,
arroz, feijão, trigo, sal, etc.
Agora
terminara nossa miséria. Todo dia vinha uma canoa nos
trazer o necessário durante um mês, tempo que estávamos
recolhidos à Praia Grande. Durante este tempo pesquisamos
qual das três Províncias seria a melhor. Todos
aconselharam a de Santa Catarina. Diziam que o clima era saudável
e os alemães ainda seriam estabelecidos próximo
da cidade. Por tanto nos decidimos por Santa Catarina.
Certo
dia chegaram vários barcos e nossa bagagem assim como
nós, fomos transportados a um veleiro brasileiro. Levantando
âncoras, partimos em direção a Província
de Santa Catarina. Fomos muito bem tratados; comida e água
suficientes. O único problema era o espaço. O
navio era pequeno para tanta gente, e a maioria permanecia no
convés. Algumas vezes fomos surpreendidos por fortes
chuvas e ficamos molhados até os ossos. Depois de uma
viagem de seis dias, chegamos são e salvos ao porto de
Santa Catarina. Ainda no mesmo dia fomos levados em barcos,
com todos os pertences, até a cidade e lá instalados
num grande galpão. Na cidade fomos bem recebidos, porque
os alemães tinham fama de bons trabalhadores e nós
éramos os primeiros a chegar depois de 20 anos.
Nos
primeiros dias recebíamos diariamente mantimentos, assim
como no Rio. Apesar de que nada tínhamos a reclamar da
comida, para nós seria de maior valor um auxílio
financeiro. Alguns dos companheiros foram procurar o presidente
da Província e explicar o caso. Este ficou satisfeito
porque economizaria nas contas. Agora a diária por pessoa
era de 160 Rs., que pagavam pontualmente cada mês. Era
em verdade muito pouco, mas dava para viver, porque os alimentos
eram baratos. Muitos conseguiram trabalho na cidade durante
o dia e podiam economizar um pouco para o futuro. Este auxílio
recebemos por 18 meses.
Algumas
horas de viagem da cidade, na estrada imperial para Lages, cidadezinha
no planalto, receberíamos terra. Junto a uma estrada!
Isto é de grande vantagem para a colônia, pensei
quando soube da notícia. Estávamos na cidade cerca
de 2 meses, quando fomos noticiados de que seríamos transferidos
para nossas terras. E realmente, no mesmo dia ainda fomos transferidos
com tudo o que possuíamos no barco, para a outra margem
e mais horas e horas rio acima. Ali fomos instalados primeiro
em casas particulares brasileiras, até que uma família
após outra fosse levada de carro de boi.
Não
chegamos logo à nossa terra porque as medições
não tinham terminado. Três horas de caminhada a
partir do último morador e floresta adentro, fora construído
um grande barco onde todas as famílias foram alojadas.
Eu
me recordo da minha surpresa quando vi a estrada imperial. Na
Europa eu nunca vira uma estrada tão ruim. Coberta por
mato onde rasgava-se a roupa, com cada passo atolado na lama
até os joelhos.
E
esta era a estrada principal da Província.
Hoje
em dia pode-se afirmar que parece com uma estrada.
Logo
depois de minha chegada ao barraco, eu fui em companhia de meu
melhor amigo, fazer uma visita a São Pedro de Alcântara,
colonizada há 20 anos passados (1826) por alemães
e que distava um dia de viagem da nossa. Enrolado em um pano
algumas peças de roupas, nos pusemos a caminho, para
chegar no dia da festa do Espírito Santo. Depois de caminhar
um trecho, fomos obrigados a tirar as pesadas botas, pois atolávamos
na lama a cada metro. Depois da chuva nos dias passados, os
riachos estavam altos e pontes não existiam. Algumas
vezes tivemos que atravessar riachos com água até
o peito. Certo riacho meu amigo atravessara bem e eu valentemente
o segui, mas num instante perdi o contato com o chão
e fui arrastado pela água. Numa margem consegui alcançar
um galho e segurar firme, depois de recuperado do susto e com
o auxilio de um amigo alcancei a margem. Estava molhado até
os ossos; troquei de roupa e seguimos caminho. A noite nos surpreendeu
antes de chegarmos à colônia e não tivemos
outra escolha a não ser procurar um abrigo. Ao longe
vimos o brilho de uma fogueira e nos dirigimos para lá;
encontramos dois negros junto a um fogo e por sinais lhe explicamos
que queríamos abrigo, se o permitissem. Os dois concordaram
e nos indicaram um lugar perto da fogueira. Cansado da viagem
nos deitamos para descansar. Dormir foi impossível devido
ao frio. Na Europa também senti frio, mas nada podia
ser comparado com o que sentia agora. Nos sentamos junto ao
fogo, aquecendo uma vez o lado direito outra o lado esquerdo,
mas de nada adiantava. Os dentes batiam e quase não conseguiam
pronunciar palavras. Com meu amigo acontecia o mesmo. Ficamos
aliviados quando ouvimos um galo cantar. Logo que o dia clareou
deixamos o rancho, pois pensar em café ou outra comida
não adiantava. Quando saímos da porta, a terra
sob nossos pés se partia e olhando em volta vimos tudo
branco; a região estava coberta por uma grossa camada
de gelo. Foi a primeira geada que vi no Brasil. Felizmente o
caminho melhorava para nós e não tivemos mais
que tirar as botas. Se tivéssemos que fazê-lo,
ou ainda cruzar um rio a nado, teríamos morrido de frio.
Ficamos felizes quando após meia hora de caminhada chegamos
a uma casa cujo dono era alemão. Tiritando de frio entramos
e ele nos acolheu com uma xícara de café. Também
nos serviram um bom almoço e muito tivemos que falar
sobre a Europa, da qual já há 20 anos não
haviam mais ouvido falar.
Acendemos
nossos cachimbos e novamente continuamos nossa jornada. Após
uma hora alcançamos nosso destino. Na pequena colônia
perguntamos por uma hospedaria, que não existia, mas
os moradores contentes e hospitaleiros, chamaram-nos e ofereceram
suas casas, porque todos estavam ansiosos em ouvir algo de sua
terra natal.
Com
a instalação e a vida dos alemães neste
lugar fiquei muito satisfeito; parecia que tinha voltado para
a Alemanha. No dia seguinte na festa, reuniram-se muitos alemães,
homens, mulheres e crianças, todos vinham a cavalo dos
lugares mais distantes para assistir os cultos nas igrejas.
Tanto aqui como na Alemanha, notei que os moradores não
desligavam-se dos divertimentos, pois logo que a missa terminou,
o povo seguiu para o lugar de dança. Apesar da música
só ser executada por uma clarineta e um violino, foi
uma satisfação enorme observar o colorido e a
alegria do povo. Ao anoitecer, muitos retiraram-se para suas
casas e outros ficaram até amanhecer. Nós que
estávamos cansados, deitamos cedo, agora numa boa cama
e dormimos até que o sol nos despertou. Permanecemos
alguns dias na colônia visitando um e outro colono; sempre
bem recebidos. Ficamos surpresos com a boa instalação
de todos, grandes e verdes pastagens com gado bonito e saudável.
Com o firme propósito de trabalhar com afinco, a fim
de chegar também a possuir uma propriedade tão
próspera, regressamos ao nosso rancho.
Alguns
dias depois desta viagem manifestei o desejo de visitar as medições
das terras destinadas para nós. Parti em companhia de
um jovem que já nascera aqui; queríamos chegar
até onde trabalhavam os homens. Espingarda sobre o ombro,
um grande facão na cintura, um saco com mantimentos,
estávamos prontos para partir. Como ainda não
existia uma estrada, mas sim somente uma picada, em alguns lugares
tivemos que arrastar-nos no chão. Tínhamos esperança
de chegarmos antes do anoitecer ao local onde os homens trabalhavam,
mas assim não aconteceu. A noite nos surpreendeu e nada
de homens. Eu fiquei com medo da noite na floresta, onde já
durante o dia não se via nem 5 passos à frente.
Tateamos ainda no escuro até que a escuridão fosse
completa e nos obrigasse a ficar no lugar. Acendemos uma fogueira
e pudemos ver um pouco à nossa volta. Com o clarão
das chamas, vimos que estávamos próximos a um
riacho, o que foi muito bom, pois pudemos saciar nossa sede
e preparar algo para comer. Depois de fortificados fomos deitar.
Eu não conseguia dormir com todo o ruído que o
vento fazia nas folhagens. Já pensava em índios
e animais selvagens; fiquei feliz quando vi o dia clarear. Partimos
para nossa jornada e após uma caminhada de duas horas
chegamos ao local de trabalho dos homens. Ficaram surpresos
e contentes quando nos viram. Como recepção preparam
uma boa xícara de café. Ficamos com eles o dia
todo e também à noite. Na manhã seguinte
empreendemos a caminhada de regresso bem cedo, para não
sermos surpreendidos pela noite novamente.
Quando
a terra terminou de ser medida, recebemos nossa parte; quanto
maior a família maior a terra. Rapazes sem família
recebiam 100 braças de largura e 1.000 braças
de comprimento (200 margem); pais de famílias recebiam125-200
braças de largura e 1.000 de comprimento. Agora chegou
a hora de trabalho. Enquanto os pais e filhos munidos de machado,
facas, foices e facão começavam a preparar a terra
para construir um rancho, as mulheres e crianças pequenas
permaneciam no galpão comum. Semana após semana
o trabalho continuava e aos poucos o terreno ganhava forma.
As casas improvisadas foram ocupadas e iniciou-se a construção
do mobiliário e o trazer dos pertences até a colônia.
Não era um trabalho fácil, porque o caminho era
apenas uma picada. Tudo que era trazido levaria pelo menos algumas
horas de viagem. Por fim tudo estava no seu devido lugar e a
família pode começar a semear. Os primeiros anos
foram cheios de dificuldades, mas depois também isto
normalizou-se e as colheitas foram mais gordas.
Dia
após dia clareava a floresta e sempre mais crescia a
colheita. Muitos anos passaram-se e a colônia prosperou.
Todos os colonos que vieram comigo ao Brasil prosperaram e chegaram
a uma razoável estabilidade. A viagem a Desterro para
a qual naquele tempo gastava-se dois dias, hoje se faz em um
dia. O ditado: "após o sofrimento segue a alegria",
concretizou-se nesta colônia.
Tão
pouco como eu, todos os outros sentem mais saudades da Europa.
Aqui em Theresópolis, no Brasil, Santa Catarina, encontraram
sua felicidade.
Obs.:
Extraído do Calendário para os alemães
no Brasil. São Leopoldo: Rotermund, 1899, pp. 79 - 107,
sob o título "Aus dem Leben eines Deutschen in Brasilien",
organizado por H. Schauffler - professor na escola de Teresópolis.
Publicado sob o título "A Vida de um Alemão
no Brasil" na revista Blumenau em Cadernos, Tomo XXVIII,
Nº 5, maio de 1987, pp. 153 - 163.
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